No passado dia 5 falei, neste mesmo local, sobre uma situação que costuma acontecer a quem cria canários, o ovo atravessado ou retido, e isto porque um criador me tinha telefonado solicitando a minha ajuda para um destes casos. Mal sabia eu que me ia acontecer exatamente a mesma coisa com uma das canárias com que fiquei para reprodutoras, oito dias depois, com a agravante de desta feita a canária não conseguir expelir mesmo o ovo.
Na quarta-feira dia 13, sensivelmente a meio da
manhã, fui vistoriar os ninhos para trocar os ovos verdadeiros por falsos quando
numa das jaulas me deparei com uma fêmea "morta" fora do ninho! Murmurando raios
e coriscos com a pouca sorte (a fêmea já tinha colocado 3 ovos) peguei na
canária e verifiquei que afinal estava viva mas incapaz de se mexer e com os
olhos cerrados. Soprando para o uropígio verifiquei logo que não expelira o ovo
porque se encontrava, literalmente, atravessado no oviduto.
Imediatamente comecei por lhe colocar com ajuda
de um cotonete umas gotas de azeite no uropígio enquanto aquecia um pouco de
água onde a iria colocar a apanhar o vapor, na esperança de que expelisse o ovo.
Ao fim da primeira tentativa coloquei a canária, que já abria os olhos, no ninho
e aguardei cerca de vinte minutos, repeti a tentativa mais duas vezes sem
qualquer êxito; já estava prestes a desistir quando, por um feliz acaso, um
providencial telefonema do Amigo Carlos Lima para tratar de outro assunto levou
a que lhe contasse o meu desânimo pois ia perder a fêmea. O Amigo Carlos Lima,
prestabilíssimo como sempre, depois de eu lhe contar o que já fizera sugeriu uma
coisa que eu sabia, mas que nunca fiz, furar o ovo com um palito introduzido
através do uropígio para facilitar à fêmea a expulsão do ovo uma vez que este,
furado, tornar-se-ia mais "maleável" no oviduto. Preparei-me para fazer o que me
fora aconselhado pois o destino da canária, se não expelisse o ovo, era a morte
certa e assim poderia haver uma hipótese de sobreviver.
Com a canária firmemente agarrada na mão
direita voltei a soprar o uropígio e, levado por um palpite, tentei "virar" o
ovo massajando suavemente a canária. Consegui que o ovo ficasse na posição
correta (pensava eu) e preparei-me para o furar quando me apercebo que uma
película de pele tapava completamente a cloaca. Algo não estava bem!
Observando minuciosamente o uropígio verifiquei
que a "abertura" dessa película de pele se encontrava deslocada para o lado do
dorso da canária (jamais conseguiria expelir o ovo, mesmo furado) e esse
pormenor era impeditivo de que o ovo fosse expelido.
Pensei, agora é que é, se não morreres da
doença vais morrer da cura, untei o mais possível com o cotonete embebido em
azeite a minúscula abertura que via enquanto que com os dedos indicador e
polegar pressionava a barriga da fêmea no sentido da saída do ovo. A abertura
que eu via à medida que ia exercendo uma maior pressão ia-se alargando até que,
finalmente, o ovo começo a sair... só que pela parte mais larga. Até nisto a
pobre da canária tinha tido pouca sorte tinha-lhe posicionado o ovo ao
contrário, mas saiu. Creio que eu estava mais aflito do que a fêmea que ficou
manifestamente mais aliviada apesar de debilitada. Quando a ia a colocar
suavemente no ninho para descansar e recuperar forças verifiquei que tinha algum
sangue a sair do uropígio, pensei agora é que vai morrer, lavei-a cuidadosamente
e verifiquei aliviado que não saía mais sangue colocando-a de vez no
ninho.
Passadas mais de 48 horas do que acabo de
narrar tenho a dizer que felizmente a canária está em franca recuperação e está
sozinha (por precaução separei o macho) a chocar os quatro ovos dela.
É uma enorme satisfação poder partilhar com
quem segue este blogue situações como esta, que acabou bem, pois às vezes é bom
não se desistir porque pensámos que um passarinho está irremediavelmente
condenado.
PS - Tirado do blog de Armindo Tavares
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