Por Rafael Cuevas Martínez, Juiz de Canários de Cor, membro da CRO/COM
Todos os canários vermelhos, tanto os lipocrômicos quanto os melânicos, derivam de cruzamentos com o Tarin da Venezuela, pequeno fringilídeo de 10 centímetros, de cor vermelho vivo e preto que, possui dimorfismo sexual. Além das melaninas, os pigmentos marcados nas penas dos canários de fator vermelho săo os carotenóides ou os lipocromicos, os quais pertencem ao grupo dos lipídeos isoprenóides ou também conhecidos como terpenos.
Estes pigmentos, como o seu nome indica (de lipo = gordura e cromos = cor), săo solúveis nas gorduras e em seus dissolventes, como o álcool. Săo substâncias bastante instáveis que se oxidam facilmente com a luz e calor e, por isso, devem ser conservados em lugares frescos, escuros e devidamente fechados, quando se tratar de produtos artificiais.
Os canários de fator vermelho săo incapazes de sintetizar estes pigmentos lipocromos que dăo cor as suas penas, por isso eles devem se encontrar presentes em sua dieta bem como as vitaminas, sais minerais, ácidos graxos essęncias, etc, a fim de evitar que as penas fiquem com tonalidades amareladas ou num tom vermelho pálido, como acontecem com os flamengos (pois se alimentam de crustáceos que contęm tais pigmentos, e que por sua vez os incorporam das algas vermelhas das quais se alimentam). Ou seja, sem esta contribuiçăo de carotenóides, é impossível que os canários de fator vermelho e mesmo o próprio cardenalito, alcancem a coloraçăo, de acordo com o limite de assimilaçăo que suas características genéticas e sanitárias permitem.
Os pigmentos mais utilizados săo a cantaxantina, o corophyll red e o betacaroteno (C40H36). Estes săo empregados em quantidades e proporçőes distintas entre eles, segundo a experięncia de cada canaricultor, tipo de variedade a ser pigmentada, etc. A cantaxantina e o carophyll red săo dois pigmentos praticamente idęnticos, com algumas transformaçőes na sua molécula e dăo os mesmos resultados. O carophyll red é preparado a partir da cantaxantina. O betacaroteno (b carotena) proporciona uma cor vermelha mais apagada, porém dá mais brilho na plumagem. A cantaxantina presente na plumagem do cardenalito produz um vermelho mais intenso, porém sua superdosificaçăo produz tons marrons ou violetas que serăo penalizados nos concursos. Estas substâncias podem ser introduzidas no alimento da criaçăo (como numa pasta), biscoitos, soluçőes oleosas, águas, etc,a fim de colorir os pássaros de fator vermelho.
Existem produtos naturais que contęm tais pigmentos em doses consideráveis, tais como cenoura, pigmento vermelho, tomate, laranja, diversas pétalas de flores, fungo, etc, porém a utilizaçăo exclusiva destes produtos, como se fazia antes e ainda hoje por alguns canaricultores, năo é suficiente para dar a intensidade da coloração que vemos em outros exemplares tratados com corantes artificiais.
A quantidade de carotenóides assimilados e sua distribuiçăo nas penas do canário, bem como a luminosidade com que tais pigmentos se apresentam é hereditária, e o criador pode melhorar isso com ums seleçăo adequada. Quanto mais próximo for o parentesco com o Tarin da Venezuela, maior a facilidade do canário em assimilar os pigmentos carotenóides, ou seja, a medida que as geraçőes filiais (F1, F2, F3) se distanciam do primeiro cruzamento com o Tarin, sua cor vermelha será menos intensa. É conveniente também recorrer aos hibridos com o Tarin, para melhorar o seu lipocromo vermelho, a sua plumagem e a sua categoria mosaico.
Os pássaros deve ter, há sua disposiçăo, a quantidade necessária de pigmentante para que a sua capacidade de assimilaçăo se mostre saturada e em conseqüęncia possa expressar fenotipicamente todo o potencial genético que carrega. Existem também outros fatores năo hereditários que influem negativamente sobre a capacidade de fixaçăo do corante, taisw como o estado de saúde do exemplar, especialmente das doenças intestinais, presença de micotoxinas nas sementes que consomem, idade, intensidade luminosa do criadouro, temperatura, tratamentos com antuibióticos ou sulfamidas.
O excesso de vitamina A, além de outros problemas patológicos ciomo a cegueira, por exemplo, reduz a fixaçăo destes pigmentos nas plumas e pode produzir superdosificaçăo, pois o betacaroteno é uma fonte de vitamina A.
As gorduras favorecem a fixaçăo destas substâncias, por isto a importância de administrar sementes oleosas como o níger, cânhamo, linhaça, semente de girassol, porém deve-se utilizá-las com moderaçăo devido a diarréia ou hepatite. Assim é conveniente, neste período, utilizar o cloruro de colina que, por ser um corretor hepático, melhora a digestăo das gorduras e o bom funcionamento do fígado. Também é conveniente usar vitamina E, pois impede a oxidaçăo das gorduras e năo devemos esquecer que os pigmentos săo lipídicos.
Năo é conveniente usar carvăo vegetal nem verduras em excesso, já que diminue a fixaçăo de pigmento, por possuir açăo laxante.
Durante a muda é conveniente que seja proporcionado um ambiente de semi-escuridăo ou penumbra, para que se diminua a picagem (pois os pássaros estarăo mais tranqüilos), o tempo da muda, facilitando a pigmentaçăo dos canários de fator vermelho.
É muito importante năo super dosar estas substâncias, pois podem ficar tóxicas em grandes quantidades, causando a morte nos canários, a infertilidade e os problemas digestivos, especialmente na criaçăo, além do gasto desnecessário. A superdosificaçăo é observada pela cor avermelhada das fezes e pela apariçăo de uma cor vermelho escuro, amarronzando (violeta) na plumagem, devido a um excesso de corante que o pássaro năo conseguiu assimilar. Para diminuir estes reflexos violetas, no final da muda, os canários podem ser expostos so sol, melhorando o tal lipocromo frente ao concurso. Para os pássaros adultos, o momento da pigmentaçăo é antes e durante a muda. É conveniente, também, utilizar uma coloraçăo para a manutençăo, utilizando os pigmentantes de 1 a 2 vezes por semana, ou melhor, reduzindo de 15 ou 20% a dose habitual. Deve-se colorir os canários intensos e nevados já no ninho e os canários mosaicos a partir dos 45 dias, tendo o cuidado de, ao separá-los de seus pais, observar o estado pas penas, porque se houver alguma quebrada ou retirada, deve-se dar o tempo para a sua reposiçăo (antes de utilizar o pigmentante). É importante observar que nos concursos, os exemplares intensos e nevados podem serem admitidos com todas as remiges e penas sem colorir e os mosaicos podem apresentá-las coloridas, pois esteticamente isto é menos recomendável isto acontece em alguns paises da Europa.
Como já falamos, os pigmentantes também podem ser misturados na água quando forem hidrosolúveis, porém podem facilmente produzir sobredosificaçăo, já que no verăo os pássaros bebem mais, por isso é convenivnete diminuir a dose. Os bebedouros e todo o material também ficarăo manchados de vermelho ( o que é muito anti-estético) e os pigmentantes na água se conservam pior, pois estarăo expostos `luz. É melhor a incorporaçŕo do pó dos pigmentantes na farinhada que damos para os canários se alimentarem, porém é preciso que esses pigmentantes estejam bem misturados com a farinhada. O que se pode fazer é misturar primeiro o pigmentante com 10% da sęmola de trigo fina e logo ir acrescentando ŕ farinhada conforme o necessário. Alguns criadores, também, fazem uso dessas duas apresentaçőes ao mesmo tempo. A apresentaçăo com soluçőes oleosas também năo é conveniente, já que o estado do fígado e intestino ficam mais comprometidos e inclusive năo é bom para as patas dos canários ao Ter repetidos contatos com esse veículo oleoso porque provocam (escamaçăo e bolhas nas patas).
De 2 a 3 vezes por semana, é conveniente acrescentar, nestes pigmentantes artificiais, produtos naturais como cenouras raladas e laranjas, porque além de reforçar a pigmentaçăo também contribui com outras vitaminas, minerais necessários, além de prevenir a diarréia.
Com relaçăo as doses de utilizaçăo destes pigmentantes, uma proporçăo muito utilizada por vários criadores é a de 2 porçőes de caroteno e uma de cantaxantina (ou carophyll red). Outros utilizam porçőes iguais de cantaxantina e betacaroteno. Outros somente utilizam cantaxantina ou carophyll red. Afinal de contas, é como bem diz o ditado "cada mestre tem a sua receita". A quantidade desses produtos a serem utilizados varia segundo os criadores e as variedades dos canários vermelhos a serem pigmentadaos ou as variedades de aves capturadas que, em estado silvestre apresentam a cor vermelha na sua plumagem. Além disso, a quantidade também varia segundo a pureza dos produtos empregados, o emprego de produtos naturais completamentares, etc. Estas quantidades em geral, variam de 3 a 5 gramas de pigmentante em 10% do quilo da pasta, e ainda pode também chegar de 10 a 15 gramas, segundo os criadores. É conveniente năo variar a dose em todo o processo da muda, para evitar a apariçăo de manchas avermelhadas com diferente tonalidade. Porém, no final de cada muda, podemos ir reduzindo paultinamente a dose a fim de evitar os reflexos violetas na cebeça. Năo se deve interromper este processo por muitos dias. Năo há problema de se demorar um ou dois dias, pois no fígado sempre existem reservas de pigmentantes para vários dias (fim de semana). Um intervalo maior pode dar lugar a penas mal pigmentadas. Se os canários se alimentarem pouco e a farinhada estiver pouco apetecível, a dose pode ser aumentada. É conveniente renovar diariamente a farinhada pigmentante para evitar uma perda da atividade da mesma.
Alguns criadores, a fim de assegurar um bom consumo do colorante, tiram as sementes por algumas horas, obrigando-os a se alimentar de todo o pigmentante em pouco tempo, além de năo perder o poder de açăo do mesmo.
Malurice Pomarede, conceituado professor francęs de biologia, aconselha 150 gramas de betacaroteno misturados em um quilo de sęmola de trigo. Essa mistura é utilizada todos os dias para colorir a pasta. Uma colher de café (aproximadamente 8 gramas) é suficiente para uma pasta destinada a 50 canários, ou seja, 200 a 300 gramas. Também outra mistura que ele recomenda é 50 gramas de cantaxantina mais 100 gramas de betacaroteno, misturados em 1 quilo de sęmola para misturar com a pasta habitual, o que equivale a uma proporçăo entre 3'4 - 5'2 gramas de pigmentantes por um quilo de farinhada.
COMO PIGMENTAR CANÁRIOS QUE NĂO POSSUEM FATOR VERMELHO?
Nos canários de fundo branco recessivo, a pigmentaçăo năo influi em nada a sua cor, porque eles săo incapazes de depositar em sua plumagem, os carotenóides que ingererm, Isso năo acontece nos canários de fundo amarelo, marfim ou de branco dominante, pois irăo acusar fator vermelho e serăo desqualificados. É muito perigoso colorir estas variedades durante vários dias, pois apresentarăo uma tonalidade alaranjada. As colheres e recipientes para a farinhada dos exemplares de fator vermelho devem ficar separados, para evitar confusőes possivéis, como por exemplo, nas gaiolas para que năo caia restos de comidas numa gaiola a outra.
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