terça-feira, 30 de agosto de 2016

TIRADO DO BLOGUE DE ARMINDO TAVARES em 30-08-2016

19 de agosto de 2016


" PRIMUS INTER PARES "


A azafama com a passarada tem-me impedido de vir dar novas aos amigos seguidores deste espaço faço-o agora para partilhar umas palavrinhas sobre parte da história do Canário Arlequim Português e, também, sobre a sua cor, num texto que me foi pedido por um amigo para ser publicado na prestigiada revista da Federação Ornitológica Italiana (F.O.I.). O texto deveria ser acompanhado de fotos de aves de vários criadores mas devido à fraca qualidade das fotos não foi possível publicá-las todas fazendo justiça à excelente qualidade das aves escolhidas. Segue o texto em português tal e qual foi enviado para Itália, acompanhado das páginas publicadas, em italiano. Desfrutem.



O  Canário Arlequim Português – Primus inter Pares

Por:  Armindo Tavares;
        - Juiz do Colégio Nacional de Juizes (Secção E);
- Presidente do Clube do Canário Arlequim Português;
- Presidente da Direcção Técnica do Canário Arlequim Arlequim Português.

Fui desafiado, pelo amigo italiano Giorgio Shipilliti, a escrever umas palavras sobre o Canário Arlequim Português, é um desafio que aceito com agrado pois permite-me, junto dos colegas criadores italianos, a quem saúdo, dar a conhecer mais um pouco deste canário que cada vez tem mais criadores por esse mundo fora. Depois já ter lido diversos textos de opinião sobre este novel canário, abordando as mais díspares situações, vou tentar ser um pouco diferente e mais conciso na abordagem desta matéria, fazendo uma pequena introdução sobre o nascimento do canário e abordando de seguida um tema que gera sempre algum desconforto entre alguns criadores, o variegado no arlequim.


1 – Primus inter pares

Foi no início da década de oitenta que ouvi falar, pela primeira vez, no Canário Arlequim Português e no nome do seu criador, o Prof. Dr. Armando Moreno; à data entre os criadores portugueses poucos o levavam a sério face às características fenotípicas que o canário iria possuir. Na verdade, com mais um punhado de amigos a que se juntaram outros amigos, começaram lentamente a proceder a cruzamentos de canários de raças várias visando sempre o objectivo final, um canário elegante com traços de alguma rusticidade, de posição altiva e que fosse, obrigatoriamente, variegado; pretendia o Prof. Dr. Armando Moreno, de alguma forma, que o canário fosse desde logo identificado com a rusticidade do povo português, orgulhoso dos feitos dos seus antepassados e pluriracial. Foi desta forma e pensamento que durante cerca 30 anos o canário foi “trabalhado” por um punhado de criadores portugueses, liderados pelo Prof. Dr. Armando Moreno e não refiro nomes sob pena de poder esquecer alguém.
Quando em 2001, por fim, os primeiros canários atingiram a qualidade necessária para serem apresentados publicamente surgiu consensualmente o baptismo da nova raça, canário Arlequim; Arlequim porque é uma palavra de cariz internacional e ainda porque  sendo uma ave multicolorida o nome assentava-lhe como uma luva pois lembrava o mítico Polichinello, vulgarmente conhecido por Arlequim, com a sua roupa executada com bocados de tecido de cores várias. Como se poderá verificar o nome, Arlequim, com que o canário foi baptizado faz todo o sentido pois é, em qualquer circunstância, obrigatório que a ave seja equilibradamente variegada.
Da miscelânea de raças e cruzamentos efectuados conseguiu-se um canário belo, elegante, multicolorido e de canto melodioso o que o faz único no mundo ornitológico, e que viria a ter o seu reconhecimento definitivo internacional, pela COM, em 18 de Janeiro de 2010, em Matosinhos, Portugal.

2 – A cor no arlequim… Sim, tem de ser obrigatoriamente variegado

Sendo o canário arlequim um canário de porte causa alguma estranheza a muitos criadores que as aves nascidas com pouco ou nenhum variegado não possam ser apresentadas a concurso; isto não é totalmente verdade, elas podem ser apresentadas a concurso mas no item do Standard referente à cor diz que a mesma deve ser “…multicolor e equilibradamente variegada…” o que, na prática, significa que essas aves serão fortemente penalizadas e em alguns casos consideradas atípicas da raça.
Todos sabemos que de um acasalamento de canários arlequins equilibradamente variegados nascem aves variegadas, aves pouco variegadas, e aves unicolores. Não há que estranhar nada, o canário aquando da sua idealização teria de ser obrigatoriamente variegado, para além de outras características e é isso, e só isso, que se tem de seguir pois foi assim que o canário nasceu; os canários, filhos de canários arlequins variegados, que não nasçam com as características, em termos de cor, e que não respeitam o standard deverão ser utilizados para reprodução tendo sempre em vista que devemos, sempre, seleccionar os melhores exemplares e tentar obter, sempre, exemplares variegados.
Um canário só porque é variegado não é um arlequim, tem de obedecer, também, a todos os outros itens do standard.
Não há raça nenhuma em que os exemplares cumpram sempre o estabelecido nos standards e não é por isso que esses exemplares menos bons são descartados; por exemplo temos raças de porte que não podem ter manchas melânicas no corpo e só podem ser brancos ou amarelos que é o caso dos Lancashires sendo admitida a melanina só na poupa, temos o caso dos Poupa Alemão lipocrómicos que também só podem ter melanina na poupa o mesmo sucedendo com os Rheilander e não é por isso que os criadores os deixam de criar ou pretendem alterar o standard. Poder-se-á argumentar que há raças de porte com variegados que admitem canários unicolores, é certo, mas essas raças não nasceram com a obrigatoriedade de serem variegadas.
Quando no standard é referido que a ave deve ser equilibradamente variegada pressupõe-se a distribuição em igual percentagem de melanina e lipocrómo, e é uma interpretação correcta, contudo o que se pretende é que uma ave tenha essa mesma percentagem de variegado distribuída alternadamente por todo o corpo e essa será, sempre, uma ave muito mais valorizada em detrimento de outra que seja, por exemplo; metade lipocrómica e metade melânica, em igualdade de circunstância.
Com a evolução lógica, do canário, no item do Standard relativo à cor é ainda referida a obrigatoriedade da coloração artificial bem como a presença simultânea do lipocrómo vermelho e branco, uma maneira, não técnica, de dizer que a ave deve a ter presença do factor mosaico o que obriga a que o vermelho deve ser o mais vivo e brilhante possível pois caso contrário surgirão aves com tendência alaranjada e amarelada que, obviamente, terão de ser penalizadas na cor.

Sem comentários:

Enviar um comentário