19 de agosto de 2016
" PRIMUS INTER PARES "
A azafama com a passarada tem-me impedido de
vir dar novas aos amigos seguidores deste espaço faço-o agora para partilhar
umas palavrinhas sobre parte da história do Canário Arlequim Português e,
também, sobre a sua cor, num texto que me foi pedido por um amigo para ser
publicado na prestigiada revista da Federação Ornitológica Italiana (F.O.I.). O
texto deveria ser acompanhado de fotos de aves de vários criadores mas devido à
fraca qualidade das fotos não foi possível publicá-las todas fazendo justiça à
excelente qualidade das aves escolhidas. Segue o texto em português tal e qual
foi enviado para Itália, acompanhado das páginas publicadas, em italiano.
Desfrutem.
O Canário Arlequim Português – Primus inter Pares
- Juiz do Colégio
Nacional de Juizes (Secção E);
- Presidente do Clube do Canário Arlequim Português;
- Presidente da Direcção Técnica do Canário Arlequim
Arlequim Português.
Fui desafiado, pelo amigo italiano Giorgio Shipilliti, a
escrever umas palavras sobre o Canário Arlequim Português, é um desafio que
aceito com agrado pois permite-me, junto dos colegas criadores italianos, a
quem saúdo, dar a conhecer mais um pouco deste canário que cada vez tem mais
criadores por esse mundo fora. Depois já ter lido diversos textos de opinião
sobre este novel canário, abordando as mais díspares situações, vou tentar ser
um pouco diferente e mais conciso na abordagem desta matéria, fazendo uma
pequena introdução sobre o nascimento do canário e abordando de seguida um tema
que gera sempre algum desconforto entre alguns criadores, o variegado no
arlequim.
1 – Primus inter pares
Foi no início da década de oitenta que ouvi falar, pela
primeira vez, no Canário Arlequim Português e no nome do seu criador, o Prof.
Dr. Armando Moreno; à data entre os criadores portugueses poucos o levavam a
sério face às características fenotípicas que o canário iria possuir. Na
verdade, com mais um punhado de amigos a que se juntaram outros amigos,
começaram lentamente a proceder a cruzamentos de canários de raças várias
visando sempre o objectivo final, um canário elegante com traços de alguma
rusticidade, de posição altiva e que fosse, obrigatoriamente, variegado;
pretendia o Prof. Dr. Armando Moreno, de alguma forma, que o canário fosse
desde logo identificado com a rusticidade do povo português, orgulhoso dos
feitos dos seus antepassados e pluriracial. Foi desta forma e pensamento que
durante cerca 30 anos o canário foi “trabalhado” por um punhado de criadores
portugueses, liderados pelo Prof. Dr. Armando Moreno e não refiro nomes sob
pena de poder esquecer alguém.
Quando em 2001, por fim, os primeiros canários atingiram a
qualidade necessária para serem apresentados publicamente surgiu
consensualmente o baptismo da nova raça, canário Arlequim; Arlequim porque é
uma palavra de cariz internacional e ainda porque sendo uma ave multicolorida
o nome assentava-lhe como uma luva pois lembrava o mítico Polichinello,
vulgarmente conhecido por Arlequim, com a sua roupa executada com bocados de
tecido de cores várias. Como se poderá verificar o nome, Arlequim, com que o
canário foi baptizado faz todo o sentido pois é, em qualquer circunstância,
obrigatório que a ave seja equilibradamente variegada.
Da miscelânea de raças e cruzamentos efectuados conseguiu-se
um canário belo, elegante, multicolorido e de canto melodioso o que o faz único
no mundo ornitológico, e que viria a ter o seu reconhecimento definitivo
internacional, pela COM, em 18 de Janeiro de 2010, em Matosinhos, Portugal.
2 – A cor no arlequim… Sim, tem de ser obrigatoriamente
variegado
Sendo o canário arlequim um canário de porte causa alguma
estranheza a muitos criadores que as aves nascidas com pouco ou nenhum
variegado não possam ser apresentadas a concurso; isto não é totalmente
verdade, elas podem ser apresentadas a concurso mas no item do Standard
referente à cor diz que a mesma deve ser “…multicolor e equilibradamente
variegada…” o que, na prática, significa que essas aves serão fortemente
penalizadas e em alguns casos consideradas atípicas da raça.
Todos sabemos que de um acasalamento de canários arlequins
equilibradamente variegados nascem aves variegadas, aves pouco variegadas, e
aves unicolores. Não há que estranhar nada, o canário aquando da sua
idealização teria de ser obrigatoriamente variegado, para além de outras
características e é isso, e só isso, que se tem de seguir pois foi assim que o
canário nasceu; os canários, filhos de canários arlequins variegados, que não
nasçam com as características, em termos de cor, e que não respeitam o standard
deverão ser utilizados para reprodução tendo sempre em vista que devemos,
sempre, seleccionar os melhores exemplares e tentar obter, sempre, exemplares
variegados.
Um canário só porque é variegado não é um arlequim, tem de
obedecer, também, a todos os outros itens do standard.
Não há raça nenhuma em que os exemplares cumpram sempre o
estabelecido nos standards e não é por isso que esses exemplares menos bons são
descartados; por exemplo temos raças de porte que não podem ter manchas
melânicas no corpo e só podem ser brancos ou amarelos que é o caso dos
Lancashires sendo admitida a melanina só na poupa, temos o caso dos Poupa
Alemão lipocrómicos que também só podem ter melanina na poupa o mesmo sucedendo
com os Rheilander e não é por isso que os criadores os deixam de criar ou
pretendem alterar o standard. Poder-se-á argumentar que há raças de porte com
variegados que admitem canários unicolores, é certo, mas essas raças não
nasceram com a obrigatoriedade de serem variegadas.
Quando no standard é referido que a ave deve ser
equilibradamente variegada pressupõe-se a distribuição em igual percentagem de
melanina e lipocrómo, e é uma interpretação correcta, contudo o que se pretende
é que uma ave tenha essa mesma percentagem de variegado distribuída
alternadamente por todo o corpo e essa será, sempre, uma ave muito mais
valorizada em detrimento de outra que seja, por exemplo; metade lipocrómica e
metade melânica, em igualdade de circunstância.
Com a evolução lógica, do canário, no item do Standard
relativo à cor é ainda referida a obrigatoriedade da coloração artificial bem
como a presença simultânea do lipocrómo vermelho e branco, uma maneira, não
técnica, de dizer que a ave deve a ter presença do factor mosaico o que obriga
a que o vermelho deve ser o mais vivo e brilhante possível pois caso contrário
surgirão aves com tendência alaranjada e amarelada que, obviamente, terão de
ser penalizadas na cor.
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